Em entrevista a redação do “Política da Paraíba” o empresário Salomão Augusto Medeiros Souto, proprietário da empresa; Salomão Ótica, situada a Rua Maciel Pinheiro, revela detalhes de um possível comércio de votos em eleições passadas. As denúncias envolvem o deputado federal Rômulo José de Gouveia e sua ex-secretaria Maria Aparecida Albuquerque.
Política da Paraíba: O senhor é empresário de que ramo e há quantos anos?
Política da Paraíba: Como teve início seu relacionamento com o deputado Rômulo Gouveia?
Salomão: Tínhamos um laço de amizade em relação à área política e certa vez ele (Rômulo), me perguntou se eu tinha uma ótica e eu disse que sim, automaticamente ele disse que iria precisar de mim para ajudá-lo na campanha.
Política da Paraíba: E como seria essa ajuda?
Salomão: Ele perguntou se eu toparia fazer uma parceria entre a minha ótica e a campanha dele.
Política da Paraíba: Nesse caso o senhor topou a parceria?
Salomão: Bom, eu disse a ele que era um empresário, e que precisava vender meus óculos e se havia interesse dele em adquirir meus óculos, agente poderia sentar sem nenhum problema.
Política da Paraíba: O senhor “sentou” com o deputado?
Salomão: Sim! Em um contato futuro, eu sentei com Rômulo Gouveia e nós acertamos certa quantidade de óculos. E ele me falou que o meu contato seria Aparecida Albuquerque.
Política da Paraíba: Quem é Aparecida Albuquerque?
Salomão: Na época era a chefe de gabinete dele.
Política da Paraíba: O acerto da ótica seria para beneficiar eleitores ou uma ação social do governo?
Salomão: Não! Na época ele frisou bem, que o interesse para que fechássemos essa parceria. Vamos dizer assim! Esse contrato comercial, pra que fossem beneficiados os eleitores dele, já que ele estava saindo pela primeira vez candidato a deputado.
Política da Paraíba: Ele deixou explícito que seria para beneficiar os eleitores dele?
Salomão: exatamente, os eleitores dele! Como eu tinha o interesse de vender e ele o de comprar, automaticamente fechamos a parceria.
Política da Paraíba: A partir de então as entregas dos óculos passaram a ser feitas a quem?
Salomão: Ele mandou procurar Aparecida Albuquerque e Vicente de Paula. Vicente era um dos gerentes da STTP, que era vamos dizer assim: A cabeça, o coordenador de campanha da área de distribuição.
Política da Paraíba: Esses coordenadores iam pessoalmente pegar os óculos?
Salomão: Não! Nós formalizamos, um... Vamos dizer assim; um papel, que era exatamente uma ordem de compra de óculos populares e só mediante essa autorização eu atenderia as pessoas que vinham com a consulta e essa ordem.
Política da Paraíba: A ótica também oferecia a consulta?
Salomão: Não! Na época eles fecharam... na época era Saulo da clínica de olhos, nós recebíamos as consultas de Saulo e das lideranças de Rômulo Gouveia e automaticamente a autorização que era previamente assinada, eu só permitia a escolha do óculos com essa autorização.
Política da Paraíba: quem dava essa autorização que o senhor refere-se?
Salomão: Aparecida ou Vicente. Aparecida assinava as autorizações e Vicente era a pessoa do financeiro, que fechava comigo o quantitativo de óculos e também a cota do mês.
Política da Paraíba: Só estes dois autorizavam?
Salomão: Não! Nós tínhamos a autorização direta que era assinada por “Cida”, e em casos especiais, como era o caso da jornalista Jaciara, que era fotógrafa. Na época o próprio Rômulo de punho autorizou. Pedindo-me assim: “Caro amigo, Salomão peço que libere óculos especial”. Que fugia inclusive do limite que era de vinte cinco reais na época.
Política da Paraíba: Essa distribuição de óculos ocorreu durante toda a campanha?
Salomão: Veja! Aconteceu até um fato interessante, quando acabou a campanha, Vicente me procurou nós fechamos e ele me disse: “Salomão, eu estourei a revelia de Rômulo, eu estourei a quantidade de óculos, não passe pra ele esse valor que depois ele vai acertar com você.”
Política da Paraíba: Foi feito esse acerto?
Salomão: Olha! Eu fui chamado na STTP (...) coincidentemente lá estava Rômulo Gouveia e Cássio, fui chamado a STTP pra acertar o debito de Rômulo Gouveia. Ai Vicente me abordou no corredor e disse: “Salomão quando você subir, não passe a quantidade de óculos, porque Cássio vai assumir uma parte do débito de Rômulo.
Política da Paraíba: Você fez o que Vicente de Paula pediu?
Salomão: Não! Agora eu disse a Rômulo, que Vicente havia me procurado lá em baixo nos corredores da STTP e que me pediu para eu não passar pra Cássio, só que eu passei. Porque se eu dissesse a Cássio que era só dez mil reais, o restante eu ia perder, já que ele estava fechando todo o acerto de contas.
Política da Paraíba: Na reunião entre você, Rômulo e Cássio, foi acertado algo?
Salomão: Sim! Cássio assumiu dez mil reais, divididos em cinco parcelas de dois mil reais.
Política da Paraíba: Cássio honrou esse compromisso? Onde o senhor recebeu?
Salomão: Ele disse: “Salomão você vá todos os meses na minha granja pegar”. Ele me pagava em dinheiro, ele honrou, Cássio honrou!
Política da Paraíba: O senhor lembra quantos óculos ficaram devendo?
Salomão: Sim! Na época o que eles faltaram acerta comigo, foi numa faixa de mil e duzentos óculos.
Política da Paraíba: Quanto custava cada óculos?
Salomão: Na época era em torno de R$ 25,00 a unidade.
Política da Paraíba: Você distribuiu uma carta à imprensa, denunciando que Rômulo tem um débito com a sua ótica. De quanto é essa dívida?
Salomão: atualizada está em torno de cento e doze a cento e vinte mil reais.
Política da Paraíba: Como você pretende receber essa dívida?
Salomão: Eu dei entrada na Justiça Comum e ai começou todo o processo jurídico dessa cobrança. Entrei pra cobrar um débito a época de noventa mil reais, referente à compra dos óculos.
Política da Paraíba: Você logrou êxito nessa ação?
Salomão: Não! As ações foram fracionadas e o juiz na época viu litigância de má fé. Por uma inabilidade do advogado que eu constituí que não poderia... já que na Vara só era permitida até 40 salários mínimos.
Política da Paraíba: Pode explicar isso melhor?
Salomão: Olha como resultado dessa ação, o juiz viu nessa mesma ação... ele viu atos de indícios de crimes eleitorais e remeteu automaticamente para o TRE.
Política da Paraíba: Sendo assim a cobrança tornou-se uma possível prova de crime eleitoral?
Salomão: Exatamente, atos de indicio de crime eleitoral.
Política da Paraíba: O que aconteceu depois disto?
Salomão: O TRE me convocou e mandou a Policia Federal apurar, eu fui ouvido pela Policia Federal, na época era a delegada Horarrá, fui ouvido por ela.
Política da Paraíba: Em que ano o senhor foi ouvido pela PF?
Salomão: No ano de 2004, e ai já não constava no processo mais dívida e sim um crime eleitoral, minha preocupação maior foi passar para Polícia Federal tudo o que eu tinha, já que é o órgão competente, para analisar todas as informações sobre compra de votos.
Política da Paraíba: O senhor apresentou algum documento a PF?
Salomão: Eu passei todos os documentos, todas as autorizações, que somando dava cem mil reais na época, e que atualizados hoje fica em torno de cento e vinte mil reais. Todos os documentos assinados pelo próprio Rômulo Gouveia a época, está nos autos da Policia Federal, e agora no Supremo Tribunal Federal.
Política da Paraíba: O deputado Rômulo Gouveia, chegou a pagar alguns destes óculos e se pagou de que forma foi?
Salomão: Pagou, no início ele pagou alguns óculos. Quem pagava era o irmão dele, aquele da empresa de ônibus Águia. É (...), Robson. Eu ia pegar esse dinheiro lá em Robson, lá na própria empresa de ônibus.
Política da Paraíba: O pagamento era feito em cheque nominal ou em dinheiro.
Salomão: Não, ele pagava enquanto pessoa física, inclusive eu esperava na porta os ônibus chegarem com os apurados, para que ele me pagasse.
Política da Paraíba: Você tentou alguma negociação para que o problema não chegasse ao ponto que chegou?
Salomão: Várias vezes, assim que terminou a campanha, ele vitorioso fui ao escritório no Alto Branco que é dentro da casa dele. Ele me disse que estava arrumando a papelada pra assumir e na primeira oportunidade veria como resolver.
Política da Paraíba: Como ficou a situação financeira da sua empresa, diante desse impasse?
Salomão: Eu não recebi, Perdi! Minha empresa não tinha capital de giro, fui pressionado por agiotas, chegando ao ponto de receber ameaça de morte.
Política da Paraíba: Comenta-se que você teve inclusive problemas de ordem familiar.
Salomão: Na época minha esposa estava grávida de três meses, e um agiota chegou a minha loja e empunhou um revolver pra mim, tendo minha esposa desmaiada e a conseqüência disso foi à perda do meu filho.
Política da Paraíba: Quais os políticos influentes tinham conhecimento desse problema?
Salomão: Olha! Eu procurei Maria Barbosa, conversei com o próprio Cássio, conversei com Fabio Nogueira, conversei com Zé Luiz, conversei com todos eles, todos eles eram sabedores. A minha mágoa é que ainda por cima Rômulo diz que eu estou cobrando uma dívida que já foi paga, que na verdade não foi.
Política da Paraíba: Alguém já lhe propôs acordo no sentido de resolver essa pendência na justiça?
Salomão: houve uma proposta que eu não aceitei!
Política da Paraíba: O que o senhor espera desse imbróglio todo?
Salomão: a realidade é o seguinte, mesmo sendo complicado dizer isso agora, já que estamos em caminhos opostos, mas seguindo a tendência que agente acompanha hoje em nível de Brasil, acho que esse processo será julgado e que com as provas que se tem, são dois volumes com 370 paginas, no Supremo Tribunal Federal. Espero que ele seja julgado, e que seja condenado, não como uma questão pessoal e sim pelo ato de ilícito eleitoral cometido na época. Afinal ele comprou votos e tudo que está sendo dito aqui eu tenho comprovantes, e a justiça tem, o Supremo tem e a Policia Federal tem.
Política da Paraíba: o senhor sabe dizer se o processo esta próximo de um veredicto?
Salomão: O processo está no Supremo Tribunal Federal, o ministro relator é Celso de Melo, ele remeteu no dia três, de fevereiro de dois mil e oito, pra Procuradoria Geral da Republica dar o parecer e autorizar o seguimento do processo, agora resta só esperar.
Política da Paraíba: Existem outros respondendo além do deputado Rômulo Gouveia?
Salomão: quem está sendo penalizados além dele é Aparecida Albuquerque, que ficou comprovado nos autos da Policia Federal, que ela era a assessora direta e chefe de gabinete dele na época em que ele era presidente da câmara de vereadores, e também chefe de gabinete dele na Assembléia Legislativa no primeiro mandato.