quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O novo político

Entendo que meu papel, além de minhas reflexões, é trazer aos leitores idéias de outras pessoas. Gostaria de trazer a esse espaço trechos de uma entrevista que o sociólogo e jornalista peruano Rafael Roncagliolo deu ao jornal argentino La Nación, e que me foi repassada por um amigo jornalista residente em São Paulo.

“Os partidos políticos se converteram em máquinas eleitorais que só funcionam quando há eleições. Isso é parte de uma mudança, na qual a relação cara a cara foi transformada em relações midiáticas. Ao congressista não interessa a repercussão do que diz no Parlamento. O que interessa é a repercussão do que diz no espaço midiático. Isso é uma deterioração da ação do Congresso. Desapareceu a relação cara a cara com a célula partidária.”

“Os partidos funcionam como garagens, porque apenas se retira o carro do estacionamento para competir e, depois, volta-se a guardá-lo..."
“As transformações tecnológicas dos últimos tempos determinaram que os eleitores não fossem considerados cidadãos, mas sim consumidores. A diferença é que, quanto aos cidadãos, é preciso convencê-los e, quanto aos consumidores, é preciso seduzi-los. Neste cenário, as ofertas dos políticos deixam de ser propostas e passam a ser mecanismos publicitários de sedução do eleitor. Isso destrói o pressuposto básico da democracia.”

“É óbvio que os candidatos não mais têm interesse sobre os temas a debater. Interessa a eles os aspectos formais do debate, como a luz, a ordem da exposição, os tempos e a disposição das câmeras. Ou seja, a vida política passou a ser controlada por novos especialistas.”

“Hoje, é preciso estar nos meios de comunicação de massa para existir. Os meios não têm êxito no momento de dizer quem ganha, mas sim ao estabelecer quais os que estão na competição. Pode-se dizer que os meios substituíram os políticos no papel de fixar a agenda. Então, não são mais dirigentes, voltados para oferecer uma direção aos cidadãos, mas sim dirigidos, no sentido de que o bom político é o que melhor interpreta as pesquisas e que faz o que o público pede.”

“Isso não significa que os meios de comunicação possam fazer o que quiser com a opinião pública, mas sim que alguns deles têm um papel desmedido. Os legisladores foram substituídos por líderes midiáticos em sua influência sobre a opinião pública.”
Esse novo (sic) político é mesmo de assustar e como ele está presente em nossas vidas. Conheço uma porção deles. Mas às vezes o tiro sai pela culatra. O eleitor pode até ser manipulado pelas grandes empresas de comunicação e pelo sistema dominante, mas nem sempre essa arma midiática funciona.

O caso de Campina Grande é emblemático. O atual prefeito Veneziano Vital do Rêgo era um grande ‘desconhecido’ nas eleições para prefeito daquele ano de 2004. Quem mesmo apostava num vereador de oposição contra um forte grupo político dominado pelo Governador do Estado, o Presidente da Assembléia Legislativa, o presidente da Câmara de Vereadores, os veículos de comunicação (leia-se a casta direcional); entidades de classe que abertamente defendiam o outro candidato?
Veneziano, seu irmão Vitalzinho, no primeiro turno, com parcos recursos, sem as tecnologias descritas pelo jornalista peruano, apenas a contar com alguns fiéis escudeiros, uma amiga que vez por outra retocava o suor do rosto do ‘Cabeludo’ para não aparecer suado no guia eleitoral.
Claro que os novos especialistas estão sempre por perto – nos Estados Unidos e por aqui também. E estarão sempre. Cabe ao eleitor discernir, no momento de cada eleição, diferenciar o sedutor que fala bem e nada faz, do bom político, que pode até falar bem, mas que se diferencia por falar olho no olho, sem truques e com o coração voltado ao bem comum de todos!

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